segunda-feira, outubro 10, 2005

Bjørn Lomborg

A primeira vez que ouvi falar de Bjorn Lomborg foi num ciclo de colóquios promovido pela Gulbenkian, em 2002, que tive a sorte de assistir.
Nascido na Dinamarca em 65, durante anos não passou de um pacato professor universitário de estatistica na Dinamarca e simpatizante do Greenpeace. Em 98, tudo isso ia mudar, com a publicação de 4 longos artigos sobre o actual estado do ambiente no principal jornal da Dinamarca. Como resposta, uma "tempestade de fogo" (nas palavras do proprio) instalou-se na dinamarca com 400 artigos a serem publicados nos maiores jornais e um debate furioso a instalar-se. Desse debate, em 2001 surge o (agora) famoso "The Skeptical Environamentalist", um livro que mudou a minha vida para sempre.

The Skeptical Environmentalist é um livro onde numa abordagem sistemática e estatística Bjorn Lomborg se propõe a provar que as coisas na Terra não só não estão tão más como parecem, como algumas estão de facto a melhorar. Para mais, Lomborg acrescenta que o alarmismo e a atitude tipo arma-à-cabeça dos ambientalistas ("se não agirmos AGORA será tarde de mais") amplificada pelos media fez com que se instalasse no publico uma impressão geral negativa no actual estado das coisas ("isto está cada vez pior", "não sei onde é que isto vai parar", etc), o que resultou numa incorrecta priorização dos esforços por parte dos governos.

Quem não gostou de ouvir nada disto foram os verdes e companhia. O que se seguiu oscilou entre os ataques ad-hominem e o puro insulto da parte das organizações ambientalistas, mas - vergonha - de algumas organizações cientificas. Cito os exemplos mais vergonhosos:

A 6 de janeiro de 2003, o Comité Dinamarquês de Desonestidade Cientifica (DCDS) decidiu processar Bjorn Lomborg, acusando-o de desonestidade científica, concretamente de ter um processo "sistemáticamente parcial de escolha de dados". No entanto, concederam que uma vez que Lomborg não tinha formação cientifica, os seus erros não teriam sido de negligência, mas sim de ignorancia. No entanto, insistiram que ele tinha agido de contrario à boa prática cientifica. Lomborg foi absolvido.

Uma análise detalhada da acusação por um colectivo de Académicos que apoiavam Lomborg, chegou à seguinte conclusão:


On a total of 27 accusations that have been identified, two are not
specific and one is not to the point. Among the 24 remaining specific
accusations, two may be proven if further sustained. But they are of little significance, if the scope of the book as a whole is considered. So at least 25 out of 27 accusations are not substantiated or are simply invalid.
Mais:


Having reached the conclusion that the concrete accusations against Lomborg largely don’t hold, it is legitimate to question the approaches of Lomborg’s opponents. Using some historical examples it is argued that almost all opponents use discussion tactics, which come very near to those of dogmatically driven pseudo-scientists. The inevitable overall impression of the debate is, not that Lomborg has deliberately been twisting arguments, but many of his opponents have. This is somewhat more than embarrassing [for the DCDS].


Com a publicação do livro em Inglês veio o cerco da conceituada revista Scientific American, que dedicou, em Janeiro de 2002 um editorial de 11 (onze) paginas a desfazer o livro de Lomborg (diria mesmo a defazer o próprio Lomborg). Até aqui, tudo bem. No entanto, quando Lomborg pediu o direito de resposta, a Scientific disse que lhe concederia 1 (uma) pagina, e não nessa edição nem sequer na seguinte, mas sim "no futuro". Perante isto, Lomborg defendeu-se como pode, no seu site pessoal, uma análise ponto-a-ponto do editorial da Scientific, que também tive o prazer de ler. No entanto, esse texto já não está disponível, porque numa jogada muito baixa, a Scientific American ameaçou processar Lomborg caso este não retirasse a sua defesa do seu site - efectivamente impedindo-o de se defender - acusando-o de violar o copyright da revista. Quando a organização Greenspirit saltou em defesa de Lomborg, a Scientific ameaçou-os a eles também, escondendo-se cobardemente detrás dos direitos de autor. Finalmente a SciAm cedeu e publicou a defesa de Lomborg em Maio de 2002 (quatro meses depois!!) e consta que também está no seu site. Mais tarde a revista publicou uma resposta à defesa de Lomborg, desta vez com 15 (quinze) paginas! Curiosamente, o editorial está livremente disponível, assim como a resposta à defesa de Lomborg. No entanto, para poder ler a defesa de Lomborg, é preciso ser assinante da edição digital da revista, pois está qualificada como "conteudo excusivo"...
Michael Crichton (autor de Parque Jurássico e, mais recentemente, State Of Fear, que recomendo vivamente) descreve todo este episódio como "um dia triste para a ciencia". Eu subscrevo.


Quanto ao livro em si, reproduzo aqui algumas das aclamações:

"... probably the most important book on the environment ever written."
The Daily Telegraph

"The Skeptical Environmentalist is the most significant work on the environment since the appearance of its polar opposite, Rachel Carson's Silent Spring, in 1962. It's a magnificent achievement."
Washington Post

"The primary target of the book, a substantial work of analysis with almost 3,000 footnotes, are statements made by environmental organizations like the Worldwatch Institute, the World Wildlife Fund and Greenpeace."
New York Times


"This is one of the most valuable books on public policy - not merely on environmental policy - to have been written for the intelligent general reader in the past ten years. ... The Skeptical Environmentalist is a triumph.
The Economist

"A brilliant and powerful book."
Matt Riddley, autor de Genome

À venda no Amazon.

2 Comments:

Blogger zaok said...

já tinha ouvido algo sobre isso, muito interessante!

4:18 da tarde  
Blogger Sofia said...

calma meninos! é normal fazerem isso porque não se pode chegar a uma harmonia e equilibrio a 100% porque se não não rende... e é verdade que não vivemos num mundo cor-de-rosa, mas também não podemos pensar que tudo é publicidade e na verdade não é assim tão mau! há muita coisa que está mesmo muito mal, mas isso só com o passar do tempo é que se sabe se realmente era ou não!
Mas eu continuo a dizer que a ciência e a filosofia deviam caminhar mais lado a lado, a ciência cria e desenvolve e a filosofia pensa nas concequências, assim não estamos sempre a meter o pé na poça, não é!

1:03 da manhã  

Enviar um comentário

<< Home