segunda-feira, março 20, 2006

Rede KAD: Nem tudo o que brilha é ouro

Quando eu era pequenino, o meu pai contou-me a historia do "escudo e da espada". Na realidade não era bem uma história, mas sim uma descrição da forma como duas tecnologias adversárias se estão sempre a superar: primeiro, inventa-se a espada,depois o escudo. Depois uma espada mais afiada, depois um escudo melhor, etc.

A actual situação de guerra entre as discográficas e as novas tecnologias P2P é algo semelhante. A industria fecha o Napster, as redes passam a ser descentralizadas.
No entanto as mais recentes redes (eMule e BitTorrent) dependem de alguma forma de entidades centralizadas (eMule: servidores, o BitTorrent: "trackers"). Porquê correr o risco de ser apanhado pela RIAA ou pela MPAA?

Ao mesmo tempo, os utilizadores do eMule e do DC riem-se dos esforços das industrias e sustentam que a rede KAD (que corre "por cima" do eMule e do DC) é indestrutível, porque não depende de um servidor central.

A questão é: se a rede KAD é tão boa como isso, porque é que os líderes do esforço pirata implementam tecnologias centralizadas?
A triste verdade é que a rede KAD tem 2 grandes desvantagens:
  • Cada pedido pode alcaçar no máximo 8000-10000 PC'c. Numa rede com 3 milhões de clientes, ninguém me garante que o vou encontrar o que procuro.
  • Uma pesquisa pela rede pode demorar vários minutos a chegar, e não se pode fazer mais que uma de cada vez, o que é extremamente frustrante.
Isto não parece tão dramático como isto, quando se está à procura do Love Generation, mas para encontrar uma cover de uma banda Indie feita por outra banda Indie, já se tornam evidentes as limitações. Não se pretende exterminar a pirataria, mas sim dificulta-la, e neste capítulo a Industria está a ganhar.

sábado, março 18, 2006

Pirataria: do mIRC ao BitTorrent

Foi em 1991, na Alemanha, nasceram os 3 caracteres que fizeram tremer as discográficas: M, P e 3.
O Mpeg Audio Layer 3 é um formato de compressão que elimina frequências que o ouvido humano não consegue ouvir, reduzindo assim o tamanho de uma música por um factor de 10, o que o torna perfeito para circular na internet. No entanto, só em 95 foi tornado público e desde então a sua ascenção não tem parado. A palavra "Mp3" é o segundo termo mais procurado de sempre na internet, a seguir a "Pamela Anderson".

A história do trafico de música está intimamente ligada ao Napster. Antes do napster, o download de músicas como as viagens marítimas no tempo dos Descobrimentos. A Internet ainda era uma coisa inexplorada, reservada a alguns geeks e early adopters. As trocas efectuavam-se em meios mais restritos tipo mIRC, ou newsgroups. Mais tarde começam a aparecer sites menos selectivos tipo mp3.com ou allmp3.com. Por esta altura baixar uma música demorava facilmente 35 mins, isto se a chamada não caísse.

Em 1999, Shawn Fanning (com 18 anos na altura) apercebe-se que se as músicas e as ligações começam a pesar nos tímidos servidores da altura. Pensou que se os internautas partilhassem a música entre si, a carga total do sistema seria dividida por todos. Nascia o Napster. Com 26.4 milhões de utilizadores online no seu apogeu, com o Napster começava a era da música grátis.
No entanto a festa não ia durar muito. O Napster é processado pela RIAA perde, ganha, perde e ganha à última da hora, mas no fim (Setembro de 2001) faltam-lhe os tomates (e os fundos, porque os processos não são baratos) e concorda em fechar o seu servidor central.


O calcanhar de Aquiles do Napster: O seu servidor central.

Toda a publicidade em torno do processo teve o efeito contrário ao desejado (pelas discográficas) e milhões de pessoas começaram a sacar música como se não houvesse amanhã. O número de utilizadores do Napster aumenta brutalmente e os downloads disparam.

A poeira ainda não tinha assentado, já estavam em jogo várias alternativas de segunda geração. Estes programas de "segunda geração", como são conhecidos, aprenderam a lição do Napster e já não dependem do index central.



Rede tipo "KaZaA": 100% descentralizada.

As redes de partilha de segunda geração já não têm servidor central; em vez disso cada utilizador faz de servidor e encaminha os pedidos e as respostas dos 6 ou 7 PC's mais proximos de si, "doando" 10% da sua ligação. Esta abordagem torna as redes virtualmente indestrutíveis, pois enquanto houver 2 clientes ligados, a rede subsiste.

Foi esta arquitectura que dominou o "mercado" dos programas para sacar, nomeadamente através da rede FastTrack, que chegou através de Portugal via KaZaA.
A rede FastTrack (à qual o KaZaA pertence) foi a mais popular até Outubro de 2004, altura em que começou a entrar na moda o download de filmes. Para filmes, havia alternativas mais bem posicionadas: nomeadamente a rede ed2k (eMule) e o BitTorrent (Azureus), que são optimizados para ficheiros grandes (>100MB).
A rede ed2K tem cerca de 3 milhões de utilizadores online, enquanto que o BitTorrent tem uns (espectaculares) 55 milhões de utilizadores, que sozinhos são (também espectacularmente) responsáveis por 30% de todo o trafego na internet.

Tanto o BitTorrent como o eMule são híbridos entre a primeira e a segunda geração de programas de partilha. O eMule tem servidores centrais onde as pessoas se encontram, mas além disso também implementa um protocolo descentralizado conhecido como o Kad que funciona muito como o KaZaA, para acelerar a procura de fontes e diminuir a carga nos servidores. Se todos os servidores fecharem, o eMule viverá apenas com o Kad.

O BitTorrent é algo completamente novo. Cada ficheiro partilhado tem um "tracker" que faz de anfitrião entre as pessoas que têm esse ficheiro disponível. Para iniciar um download basta sacar o tracker que o programa rapidamente faz o resto. Enquanto isto é uma arquitectura robusta, estes trackers têm que estar armazenados em algum sítio (sites, geralmente) e esses sites podem ser alvo da fúria das autoridades.

E o futuro? Fica para depois.

segunda-feira, março 13, 2006

Pirataria: Do Betamax ao Minidisc



Com o advento e a popularização do gravador de cassetes nos anos 80, tornou-se hábito fazer cassetes em casa (Nós por cá, tinhamos a "Hora do Cassete", um programa criado pela Rádio Cidade para o efeito, completo com pausas para virar o lado e tudo). A British Phonographic Industry (BPI) entendeu isto como uma violação macissa dos direitos de autor das bandas inglesas e lançou a campanha "home taping is killing music". Foi o primeiro assalto de uma marcha em que a indústria (BPI, RIAA e, mais recentemente a MPAA) dá um passo para a frente e dois para trás: à cassete sucedeu o minidisc (que podia ser regravado 1 milhão de vezes sem perda de qualidade), depois os duplicadores de CD, e finalmente a Internet.

Do outro lado do oceano, e já nos anos 70, a Sony lançou o Betamax, e as pessoas começaram a gravar programas de TV e filmes em casa, e com isto provocaram o estudio gigante americano Universal City Studios (cujos bolsos não têm fundos). A Universal processou a Sony por facilitar o infringimento de direitos. E considerou-a responsável pelas acções dos seus utilizadores. O mundo esperou. Finalmente, em 84, veio a decisão: A Sony não podia ser considerada responsável pelas acções dos seus clientes, "because the devices were sold for legitimate purposes and had substantial non-infringing uses." Esta decisão iria proteger durante 21 anos (até Junho de 2005) tecnologias como o minidisc, o gravador de CD's, o iPod, as pendrives, mas também o KaZaA, o eDonkey2000 (A.K.A. eMule) e o Grokster, que argumentaram todos que o seu serviço tinha usos substanciais que não violavam os direitos de autor, e que se alguém o fazia, não era da responsabilidade deles.

[to be continued]